quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Os anos de casa que interessam



Que valor tem, nos dias de hoje, ter 10, 20 ou 30 anos de casa? 'Anos de casa', para quem não sabe, são aqueles anos que se passam a trabalhar para uma empresa, que nesse período é a sua casa. Não confundir com lar! Isso é outra coisa completamente diferente.

No dia a dia de um trabalho fazem-se amizades (algumas das quais se guardam para a vida), zangam-se comadres, partilham-se novidades (para quem não sabe, a partilha de novidades, 'antigamente' era feita ao vivo e a cores, olhos nos olhos, mano a mano, face to face). 
O valor, neste caso, pode ser absoluto ou relativo.

Absoluto, porque todas as pessoas que trabalham têm um preço para abandonar a casa. Estão a ver porque é que não se chama lar? Nos atribulados dias que correm, muitas pessoas têm feito - e ainda fazem - contas à vida, para saber quanto podem levar. No fim de contas, a vida tem um preço: todos temos contas para pagar e o trabalho não se faz apenas por desporto. Embora muitas pessoas retirem dele outros proveitos, para além dos financeiros.

Relativo, porque o valor que as relações que se criaram nesses anos de vida conjunta (mais conjunta que as poucas horas passadas com a família real) pode ser incalculável. 

Three Ladies At Tea 1999Itzchak Tarkay. Acrílico sobre tela, 113 x 145 cm
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Há lodo (e gajas nuas) no cais


A peça de teatro chama-se Cais Oeste, foi escrita por Bernard-Marie Koltès, considerado um dos expoentes máximos da dramaturgia francesa contemporânea, tem encenação do croata Ivica Buljan, que tem aqui a sua primeira colaboração com uma companhia portuguesa: a Companhia de Teatro de Almada. Está em cena no Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em Almada, de quarta a sábado às 21h30 e domingo às 16h, até dia 2 de novembro (2014).

Sim, há uma gaja nua em palco, a certa altura. Pronto, não guardo mais o suspense e espero que o título deste post suscite mais curiosidade para que se leia. E entra a Soraia Chaves. 
Mas a gaja nua não é ela, embora quase seja. Temos pena. Sobre ela e a sua interpretação no palco - a primeira a que assisto - não me alongo mais. É uma tentativa, como muitas outras a que já assisti. A rapariga é gira, tem um bom corpinho, uma carinha laroca e é agradável ao olhar, do alto dos seus saltos altos, saia e casaco de pele sobre uma blusa por onde quase saltam à vista outros seus atributos, por que é mais conhecida. Talvez só daqui a muitos anos se vá conseguir separar da fama que o cinema lhes trouxe (a ela e às suas amigas mamocas). Tem o seu mérito: fez com que esse filme tenha sido um dos filmes portugueses mais vistos de sempre. Na televisão também fica bem. Mas aqui fala-se de teatro.

O palco simula um cais abandonado onde nem para se ir morrer já serve. O cenógrafo Jeans-Guy Lecat criou uma espécie de armazém decrépito que ocupa quase todo o espaço, em comprimento, largura e altura. Quase sem paredes nem teto, ainda serve de abrigo a muitos que o procuram. Abrigo físico e humano. Quem o procura para morrer já foi rico, quem o encontrou para viver nunca o terá sido. Os personagens que naquele bairro vivem, convivem e esperam como aranhas, que por engano as suas presas mais tarde ou mais cedo ali caiam, para lhes devorar a riqueza que lhes resta, o resto da dignidade que já não têm. 

O jogo corporal dos atores, que Alexandre Pieroni Calado preparou, cansa. Cansa-os mais a eles do que a nós, espectadores. Aquela realidade está provavelmente longe da destes. Isso sossega-nos. Por isso apanha-nos de surpresa que os dois jovens (Ana Cris é heroína personificada, no duplo sentido da palavra) se dispam da sua vida perante nós, sem pudor. Literal e simbolicamente despidos fornicam à nossa frente. São apenas alguns segundos de prazer para o jovem casal, e chegam. Espantaria o ato a um público de início e meados do século vinte, quando as performances dadaístas, depois futuristas, tinham esse objetivo. Já se sabia que assim era. No século vinte e um já não seria de esperar o choque que a nudez, só por si, causa. Maior espanto e choque me causa os risinhos de jovens deste tempo, de um mundo desenvolvido, que nunca devem ter visto corpos desnudados, de machos ou fêmeas, à sua frente. Mas mais ainda o de adultos feitos, casais, que com toda a certeza já conhecem de ginjeira o ato da procriação e do prazer. Como eu costumo dizer:

- Peleeeeeease!

Que é como quem diz:

- Pelo amor da Santinha...

É uma imagem que entra por um qualquer ecrã deste mundo evoluído, muitas vezes sem a termos pedido. (As outras vezes é quando se pede ou pesquisa na world wide web e facilmente se encontra). Antes de entrar na sala do espetáculo eu já tinha sido advertido, por um amigo, que por sua vez tinha lido as críticas de diversos jornais e revistas, penduradas no espaço do foyer do TMJB, criado para o efeito. Diz que a crítica não tinha poupado os atores à sua tentativa de encontrar os respetivos personagens. Eu, que não costumo emprenhar pelos ouvidos (nem por outro qualquer orifício, acrescente-se), libertei-me dos preconceitos que muitas vezes estas críticas podem causar. A boa crítica causa outro tipo de reflexão, muito mais útil.

Não posso deixar de sublinhar a interpretação de Teresa Gafeira. A experiência nota-se. Até quando rebola no chão de um lado para o outro, à boca de cena, enquanto diz o seu texto, ora em português, ora em espanhol, ora numa língua que não percebi, a sua qualidade salta à vista. As palavras saem-lhe sempre límpidas, fortes e causam comoção. Não preciso de as entender. Noutras partes da peça, com outros atores, as palavras não foram tão claras e a dicção fazia com que se perdessem alguns significados.

Salve-me também o desenho de luz de José Carlos Nascimento mas, principalmente, o som magistral de Mitja Vrhovnik Smrerar. Que interessa que o senhor tenha um nome que me é difícil de pronunciar se ele foi mestre em me apresentar esta outra linguagem, que é a música, que casa tão bem com o tema e acrescenta o dramatismo cénico que se pretende.

É curioso que em alguns momentos dei comigo a fazer comparações com outras peças já  apresentadas pela CTA, sobretudo de Shakespeare. Talvez pela referência teatral que já são ou porque gosto sempre de comparar (o incomparável) com o que de bom se faz, se fez ou se vai fazendo. Depois, ao ler as notas de uma entrevista com o encenador (no programa, disponível no balcão da bilheteira), este refere que todas as cenas nas peças de Bernard-Marie Koltès descrevem as relações entre vendedor e comprador, "entre quem tem alguma coisa para vender e quem está interessado em comprar". E compara-o a Shakespeare. No entanto, aqui o mercador não está em Veneza mas num outro cais, talvez Cacilhas, até porque Ivica Buljan tenta sempre pensar no contexto em que está a trabalhar. 

No jogo entre quem quer vender alguma coisa e quem não quer comprar ou pagar, a dança dos corpos é ao mesmo tempo repulsiva e hipnótica. Este paradoxo faz parte do mundo tão contemporâneo (tão atual para um texto escrito nos anos oitenta) e tanto real quanto metafísico e metafórico. Os atores não descobrem apenas o físico uns dos outros. Eles nada têm, talvez nem corpo.

"É que Ivica Buljan tenta dar tanta importância às ideias como à matéria. Como se estivesse à procura de tornar a dramaturgia palpável através dos corpos dos actores, como se a superfície do trabalho teatral fosse a camada que permite mergulhar no que realmente lhe interessa." (Levi Martins)

Não é caso para rir. Muito menos para risinhos tímidos e parvos de algum espectador que ainda está a aprender, embora muito bem, a ser público de teatro. Ter ficado até ao fim, depois de mais de duas horas, sem intervalo, a absorver tantas emoções, é de se lhe tirar o chapéu e toda a roupa de eventual pudor conservador. Haja evolução de pensamento.

....................
Intérpretes Alexandre Silva, Ana Cris, António Fonseca, Danilson Delgado, Diogo Dória, Pedro Walter, Soraia Chaves e Teresa Gafeira


Encenação Ivica Buljan

Tradução Ernesto Sampaio

Cenografia Jean-Guy Lecat
Figurinos Ana Savic Gecan
Desenho de luz José Carlos Nascimento
Som Mitja Vrhovnik Smrekar
Assistência de encenação e preparação corporal Alexandre Pieroni Calado

Direcção de produção Carlos Galvão

Direcção de montagem Guilherme Frazão

Operação de luz e som Miguel Laureano
Montagem Daniel Verdades, Hugo Glória, Ivan Teixeira, Joaquim Silva, João Martins, Miguel Laureano, Paulo Horta, Pedro Machado, Renato Delgado, Sandro Esperança, Tozé Martins
Direcção de cena João Farraia

Grafismo João Gaspar

Edições Ângela Pardelha

Comunicação Levi Martins
11 OUTUBRO a 02 NOVEMBRO, 2014 | SALA PRINCIPAL // QUA a SÁB às 21h30 | DOM às 16h00
Duração: 2h15 M/16


domingo, 19 de outubro de 2014

Rafael e a fotografia transgénica


As fotografias de Rafael Mantesso parecem ter um Photoshop real, transformando objetos e comida em ideias que deixam essa comida menos apetecível ao paladar mas um festim para o olhar.
Eu já tinha ouvido falar em milho transgénico, mas nunca tinha 'visto' um de uma forma tão literal como ele nos mostra na primeira fotografia que partilho. Os alertas para este tipo de alimentos são muitos e cada vez em maior número, já que a indústria alimentar recorre a essas alterações para responder ao aumento exponencial da população. É um processo que ao mesmo tempo torna os alimentos (animais e vegetais) com melhor aspeto, maiores e fá-los crescer de forma mais rápida do que o processo natural. A fotografia de Mantesso não é, digamos, biológica. 

A fotografia da pêra de duas cabeças (como lhe chamo) vai mais longe do que a simples transgenia do anterior milho. Se num era uma alusão ao processo químico de transformação, neste caso é um processo físico, puro e duro como o metal dos agrafos que unem uma cabeça de pêra ao corpo de outra pêra. Tenho a impressão que há aqui influências da fantasia humorada e negra de Tim Burton. Nesse caso o título que lhe daria seria A Pêra Cadáver. Mas não me parece que a fotografia esteja morta.

Já o brócolo salpicado de pequenos confetis comestíveis - daqueles que se colocam em sobremesas - remete para a ideias de que este alimento, habitualmente muito verde e injustamente ignorado sobretudo pelas crianças, se torna desta forma um vegetal mais apetecível de comer. Não sei se os miúdos vão nisso. Os meus olhos vão e gostam desta doce transformação, colorida como a casca do ovo que um pequeno homem num escadote pinta, como que a anunciar uma Páscoa.

Considero este tipo de imagens Matrioskas da Fotografia, uma vez que dentro da imagem se repetem outras idênticas imagens, neste caso com vários twists: começa com uma espécie de selfie com uma camera-telemóvel, cuja reprodução para a T-shirt passa a conter uma faça em vez da camera e na seguinte o mesmo processo mas com um boneco em vez da faca, e assim sucessivamente e infinitamente. 
Já a Banana Voodoo (como batizei a fotografia seguinte) apresenta esse fruto cravado de alfinetes coloridos. A banana teve ter feito mesmo muito mal a outro membro do cacho...

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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A língua portugueira é muito traiçoesa : nem todos os A's são verdes



Começou a ideia deste post com uma dúvida colocada por um amigo, por sua vez provocada por uns colegas deste, sobre em que circunstâncias se devem utilizar as palavras 'obrigado' e 'obrigada', não como verbos mas como agradecimento. Para mim (e para esse amigo) a dúvida não se colocava, pois sabíamos que dependem do género da pessoa que as utiliza, e não da circunstância ou do contexto. Ou seja, os meninos dizem 'obrigado' e as meninas 'obrigada'. Tal e qual como na apropriada conjugação verbal.

Eu sabia porque esta dúvida já a tinha tido há uns tempos e na altura fiz a pesquisa necessária para a esclarecer. Mas a insistência dos colegas desse meu amigo, que teimavam não ser assim, levou-nos a procurar nos entendidos manuais o esclarecimento que, não só os calasse, mas os ensinasse qualquer coisa. É assim que devemos fazer, em vez de nos armarmos a entendidos convictos cuja convicção é deitada por terra com uma simples busca pela informação correta.

Esta pequena mas curiosa pesquisa fez-me, por um lado, pensar nas barbaridades que se vão dizendo e escrevendo no dia a dia, calinadas que fácil e gratuitamente empobrecem a língua portuguesa com a pobreza de vocabulário e de conhecimento das regras gramaticais. Já nem falo do polémico novo (já não tão novo assim) acordo ortográfico. Isto num país em que a taxa de analfabetismo, segundo dados do último censos (2011) aponta para níveis cada vez mais reduzidos (%?) enquanto, por outro lado, nunca tivemos tantos licenciados no país.

O paradoxo disto, destes dados, é que a expressão escrita (e até a oral) não espelha esse conhecimento maior de seja qual for a matéria estudada. A comunicação continua, ainda, a ser uma 'coisa' que não interessa muito, quando, afinal, dela dependemos para nos expressarmos. Dela depende o início ou fim de uma guerra, de um romance, de mal ou bem entendidos, de conhecimento adquirido, etecetera, etecetera (assim mesmo, por extenso, para aumentar a importância do etecetera). É que ainda há muita gente (também se pode dizer 'pessoas') que não sabe, por exemplo, distinguir a utilização da forma correta do verbo haver com o outro 'à'. Mas (não) são verdes.
Eu vou há praia mas à muito tempo que lá não ponho os pés. NÃO
Há, isso sim, alguma coisa em mim que me faz trazer este assunto à baila. SIM
Pode pensar-se que não, mas a dúvida parece uma daquelas tradições que não deixam de existir, mesmo quando já não fazem qualquer sentido que as haja. Ainda há bem pouco tempo um conhecido meu teve de apresentar uma proposta de prestação de serviços (em comunicação, veja-se a triste ou apenas patética ironia) e nela era taxativa, quase vergonhosa (envergonhei-me por ele), a utilização do verbo haver (há) quando queria colocar um qualquer assunto à consideração de Vossas (dele) Ex.as. 

A informal pesquisa fez com que, por outro lado, eu encontrasse outras expressões que podem suscitar algumas dúvidas (incluindo em mim mesmo). A elas voltarei oportunamente, para não maçar muito a vossa leitura. À cautela. Há muito tempo para isso.

Obrigado pela vossa atenção.


Créditos da imagem:
Garden, por Reem Yassouf

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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Outra história pós-laboral (2000)



Hoje é dia de céu. Só me apetece olhar para ele a ver se chove. Dava na meteorologia, mas… nem o sol. Eu gosto de sol mas hoje eram uns pingos de chuva que queria ver (talvez sentir).
O céu é lindo. Mesmo com as nuvens cinza. O ambiente é húmido mas eu sinto-me seco e quente. Desejo ser o vento para gelar os cabelos vermelhos e pretos da rapariga que vai sentada à minha frente. É bonita. Parece uma amiga minha.
Gostava de a conhecer mas sou demasiado discreto para sequer mostrar algum interesse.

Quando chego à estação há um homem com um computador portátil à minha frente. É sexta feira e o expediente parece ainda não ter acabado para ele. Continua.
Já no comboio, depois de uma estação, paramos no meio do caminho e no interlocutor agradecem a nossa compreensão pela espera. Qual compreensão? Não tem que agradecer. Eu queria compreender…

O homem do portátil parou de trabalhar. Olha, agora, a rapariga do cabelo vermelho, que apanhou o mesmo comboio que eu. Parece gala-la. Será que quer o mesmo que eu? Se quer, é muito menos discreto. Não devemos querer a mesma coisa.

Continuo parado – é uma avaria noutro comboio – sei-o pelo mesmo interlocutor de há bocado,. Já não me apetece olhar para o céu. Não anda e eu gosto de vê-lo é em movimento.

Assim parece que o tempo parou. Mas eu continuo a escrever fervorosamente. Tenho sono e encosto-me à janela. Se adormecer, para além de passar melhor o tempo, tento ganhar o tempo que podia ter ficado a dormir de manhã.

Quando acordo vejo o comboio no mesmo sítio. Será que dormi muito tempo? Há quanto tempo estarei aqui? Tenho demasiada vergonha para perguntar as horas ao senhor que vai ao meu lado. Será que viajei no tempo? O relógio do comboio mostra umas horas em que eu não devo confiar pois nunca costuma bater com o meu (quando o tinha, antes de ter sido assaltado a semana passada a sair da estação).

O céu move-se… digo… o comboio. Não é que eu tenha pressa. Quando chego a casa não está lá ninguém. Desejava que fosse segunda-feira amanhã. Olhar para os meus colegas, ainda que falemos pouco e só de trabalho, sempre é melhor do que ver televisão o dia todo.

Adoro o céu. Se pudesse morava nas nuvens e de vez em quando escondia-me da terra para que não me pudessem ver.

Continuo a achar a rapariga do cabelo vermelho interessante. São mesmo nuances vermelhas sobre o preto natural e brilhante. E contrastam com o resto da sua figura. Misteriosa e… sinto qualquer coisa no ar. Ela está duas filas à minha frente. O homem do portátil de vez em quando disfarça que não olha – muito mal e raramente – dá muito nas vistas – típico.

Ela, sinceramente, não me transmite vida nenhuma. Própria.

Ele vê-se logo que vai ao futebol aos fins-de-semana com os amigos, e talvez jogue. Acabou o curso (sabe-se lá de que curso chato) e tenta, como aliás todos nós, fazer passar-se por executivo. Eu faço passar-me por uma pessoa e como tal desejo conhecer a tal rapariga. Tanto. E chego a desejar, no minimo, que ela olhe uma única vez que seja para mim. Nem sabe que eu existo. Por isso preferia morar lá em cima. Não quero mover-me. Sim, deixar-me voar com o pensamento naquilo que quero e não tenho.

Chego a casa entretanto.

Qual casa?

Assombrada de vazio, nem um beijo. Não tenho paciência para animais domésticos e pouca tenho para me domesticar a mim mesmo. Não gosto de fazer ginástica e sento-me longas horas, a ler um jornal da semana passada ou do dia anterior. Nem vejo a data. Só as letras gordas. Já me chegam os números de contabilidade durante todo o dia. Chega de caracteres. A música aborrece-me. Toda. Nem penso se sou aborrecido.

Gosto de cozinhar. É a minha emoção principal para todo o dia. É um sonho: morar e cozinhar nas nuvens. Pratos grandes para servir à minha... ao meu amor que... terei?

Acho que cozinho muito bem. Não sei porque nunca ninguém provou. Só eu. E eu gosto, por isso devo ser bom. De vez em quando arrisco no MacDonalds. É mesmo um risco, uma aventura. Como ver filmes de terror: uma emoção de medo e desejo. Um horror que gosto de sentir... e saboreio.

(História escrita originalmente em papel.)


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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O eterno cisne


Imagine this: um patinho aparentemente feio vai a um programa de caça talentos, um dos inúmeros reality shows que inundam o universo televisivo de todo o mundo. Não é preciso imaginar mais. O programa chama-se "Se ela dança eu danço" e o patinho é John Lennon. Mas não o escaravelho britânico (Beatle). Outro. O brasileiro cujo apelido é Silva. O miúdo surpeendeu, emocionou e impressionou ao interpretar a cena da morte do cisne do famoso Lago dos Cisnes. 

Uma marca de ténis (Reserva) caçou este cisne e retirou a sua arte da rua para o meio de um vídeo que maravilha pela simplicidade e destreza física. O vídeo está no Tubo Tu (YouTube, para os amigos) e prolifera pelos blogues e pelas partilhas nas redes sociais. A arte está aqui, como tantas outras vezes, ao serviço da publicidade, numa campanha cujo slogan é
Tudo o que é Belo é Simples
Eu não concordo. Eu acho que muitas coisas belas não têm nada de simples. Nem todas as coisas simples são belas. E também há muita complexidade em muitas outras que parecem simples e belas.



(se não conseguires visualizar este vídeo vê aqui)

Quem nunca assistiu ao vivo ao espetáculo de dança O Lago dos Cisnes, terá a oportunidade de ver ou rever (e ouvir) a interpretação da Usmanov Classical Russian Ballet no CCB em dezembro próximo, dias 19 ou 20. 
Também esta não será uma apresentação comum já que será dançado em sapatilhas de ballet e patins no gelo. Curioso. 

(se não conseguires visualizar este vídeo vê aqui)

Assim o cisne nunca mais vai morrer.

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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Recuperando : Muitos escritos em demasiados suportes : da caneta ao dedo



Nesta série de "Recuperados" vou buscar ao passado alguns pequenos textos que escrevi.
Quando escrevi esses primeiros textos, ainda não tinham sido inventados os blogues. Mas isso nunca impediu ninguém de escrever, desde que há Homem e um pau, e desde que o Homem com o pau inventou a escrita.

A minha escrita não é assim tão velha.
Alguns desses escritos foram feitos em papel, com caneta. Quando os meus pais me ofereceram uma máquina de escrever, logo me lancei a ela para treinar a minha caligrafia mecânica. Tantas horas passadas a bater nas teclas duras, analógicas, a escrever de tudo e de mais alguma coisa. Desde passar a 'limpo' as letras das minhas canções favoritas, às listagens de cassetes com filmes e outras cenas que me interessavam na TV e que ia gravando nas VHS. Um monte de plástico com este arquivo histórico foi há bem pouco tempo à inspeção da evolução e não passou.

Reciclagem com elas.

Antes disso tinha vindo o meu primeiro computador, o ZX Spectrum +2 (o mais dois fez toda a diferença relativamente à versão anterior: tinha um deck para cassetes incluído). Um computador caríssimo (custou 38 contos nos finais dos anos 80, início de 90), que não fazia mais que uma barulheira na televisão a que era ligado e só depois de alguns minutos lá ia entrando um jogo ou outro. Era uma festa quando entrava.
 - L O A D I N G . . .
Era o aviso que mais lia no ecrã, nessa altura. Horas e horas deste loading, que só muito depois (quando aprendi inglês) entendi o que queria dizer. Basicamente, "Espera que o jogo ainda vai demorar algum tempo a carregar. Podes ir inventando o Windows." Antes da Microsoft dar esse passo, ainda passei pelo MS DOS, sem 'janelas' para o mundo. Aqui a linha de comando era o campo de batalha, que para o utilizador comum não deixava muito à imaginação. Mas foi por causa disso que a época foi profícua para os programadores.

Os meus primeiros textos, escritos num computador e impressos em papel (ainda naquelas impressoras que deixavam tracejadas as letras...) foram feitos na biblioteca onde passei muito tempo a descobrir essa maravilha informática, antes de ter o meu próprio Pentium (4), comprado com o dinheiro resultante do meu primeiro emprego. Duzentos contos, na altura (segunda metade dos anos 90), quando o Windows 95 foi uma revolução e quando foi criado a primeira longa metragem de animação totalmente computorizada: Toy Story (1995).

Ainda me passou outro desktop pelas mãos antes de comprar, há cerca de seis ou sete anos, o portátil que ainda tenho. Ainda dura porque na altura quis o melhor para carregar com os programas pesados de que precisava para trabalhar e me entreter. Mas sobretudo trabalhar, o que me entretinha ( e entretém) bastante. Por ele passaram muitos projetos, muita escrita, muito design gráfico, muita edição de vídeo, muitos filmes, muito scroll. Passou uma licenciatura profícua em muita escrita (cerca de 60 trabalhos), um mestrado com tantas páginas em vários papéis e a respetiva tese (sem tantas páginas como as que gostaria que tivesse - muito tive que editar e cortar). 

Entretanto, veio um tablet barato que depressa passou à história (para as mãos de outra pessoa), dando lugar a um pad que diz que é i (lê-se 'ai'). Não passa de um vidro touch, ou táctil.
Em poucos meses já lhe passei tanto o dedo, para cima, para baixo e para os lados, que provavelmente todos juntos os movimentos caminhados nele davam para ir à lua e voltar à terra. Para voltar a tocar e a voltar a criar, a escrever, a inventar, a passar o tempo, a jogar, a aprender, a trabalhar. 
E a partilhar mais um post, como este.

Falta ao vidro táctil a alma do barulho a teclar, mas até para isso já se inventou solução (v. imagem)



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sábado, 4 de outubro de 2014

Sorria, não está a ser filmado



Não será o mundo muito melhor se sorrirmos mais?
O que é que ganhamos ao espalharmos sisudismo* pela terra e à nossa volta?
Eu não sou propriamente uma pessoa que ande sempre com um sorriso nos lábios, mas tenho inveja (da boa) daquelas pessoas que conseguem ter essa expressão na cara 24 horas por dia. Penso que  é genético e é uma raridade. A maior parte de nós não é assim. 
A nossa expressão facial normal é asséptica: não tem expressão. O que não quer dizer que não tenha emoção. O que os olhos não vêem a maior parte das vezes o coração sente. Por muito que se treinem os inúmeros músculos, eles não conseguem estar sempre, a toda a hora, em qualquer momento, faça chuva ou faça sol, em tensão de sorriso. O que me deixa tenso, por vezes. Eu bem tento, mas não consigo. Eu bem treino, mas é difícil ter isso sempre em consciência. 

Tomar consciência de que é necessário sorrir e rir, de vez em quando, com regularidade, é imperativo para sermos felizes. A felicidade não é uma constante. Ela faz-se de intermitências e encontra-se quando encontramos um motivo para sorrir. Qualquer que seja o motivo, de qualquer tamanho ou importância. Poucas vezes é por termos muito dinheiro, muitas vezes é por termos algum dinheiro, mas mesmo quando se tem pouco ou nenhum dinheiro, isso não é fator crucial para ser feliz.

Ser feliz é sorrir com as coisinhas mais sem importância que existem na vida. O que não tem importância para os outros pode ter para nós. Olhar para o céu e ver um azul, um cinza ou um sol, uma ou muitas estrelas, qualquer lua, minguando, crescendo ou cheia, qualquer mar, praia, rio, uma lareira, uma árvore de Natal, uma pinha, uma abóbora, luzes, barulho de uma multidão ou silêncio de uma escuridão, a quantidade de novas mensagens no canto de um ecrã, uma chamada perdida que logo se acha, um aperto de mão, um cumprimento sincero, um abraço com ou sem beijo, um beijo com ou sem saliva, vestir aquela roupa, cheirar aquela flor, aquela terra molhada, ficar molhado pela chuva ou por um mergulho, mudar aquela planta de vaso, arrancar aquela erva daninha... Assim se semeiam sorrisos na nossa vida. Isso, asseguro-vos, contagia tudo e todos à nossa volta. Mesmo que semeie a inveja por esse sorriso que o outro tem e que eu quero ter, porque fará com que se queira tê-lo e com que se procure encontrá-lo também.

É por isso que gosto de aparelhos que tiram fotografias. Assim que se apontam a alguém tem o condão de transformar em sorriso os lábios de uma pessoa. Quase todas as pessoas. Mesmo que o sorriso seja só para a camera, não creio que tenha de ser falso. Ele tem qualquer coisa de real na imagem que fica em digital ou em papel. Tem o poder de relembrar que naquele momento, daquele instante captado, fomos mais felizes. 


Prova do que digo?
Lembram-se do Candid Camera? O programa de televisão teve a primeira edição em 1948, na altura apresentado pelo seu criador Allen Funt (que apresentou ou co-apresentou a maior parte das séries até a doença o impedir) no canal americano ABC (embora tenha passado por outros, como as cadeias NBC ou NBS). Mas a série apresentada pelo Dom DeLuise, entre 1991 e 1992, é a que lembro melhor por ter acompanhado a minha plena adolescência. Ainda hoje recordo o famoso slogan jinglado:
Smile! You're on Candid Camera!
Foi percursor de todos os apanhados que o sucederam. No final das situações os apanhados riam-se sempre quando descobriam que tinham estado a ser filmados. A camera já la estava, eles é que não sabiam. Bastava a consciência de que afinal ela lá estava (e tinha estado) para sorrirem. É claro que a situação é que gerava o ridículo e a inevitável graça. Daí o apanhado. Mas a pessoa sorria e os espectadores também. Daí o sucesso do programa, também em Portugal.

É claro que sempre haverá pessoas que não gostam de ser capturadas dessa ou de qualquer outra forma por uma fotografia ou filme. Mas são cada vez menos essas pessoas. Há muito da alma de cada um que ali fica, seja mais tímida ou desinibida a pose. Embora as poses sejam cada vez mais desinibidas - incluindo de crianças que ainda nem sequer sabem o que é que quer dizer inibição ou exposição, cuidados extras que cabe aos pais controlar, mesmo que sejam eles próprios os responsáveis por essa exibição orgulhosa -, prefiro pensar que elas espalham sorrisos pelo mundo. Logo, mais felicidade, logo, menos sisudismidade.

Não esperemos, contudo, por uma camera ou de um artifício qualquer, ou mesmo por outra pessoa, para o fazer: sorria ao desbarato, mesmo que ao resto do mundo pareça um bocadinho parvo. Antes parvo feliz do que um rico sisudo e triste.

(É claro que se for rico, parvo e feliz é muito melhor.)

Há quase trinta anos Miguel Esteves Cardoso, numa das suas crónicas (Neura) para o jornal Expresso, explicava muito witty-witmente** porque é que os portugueses se vangloriam e orgulham da sua tristeza fadista (e não fatalista). Eu sei que recorro muitas vezes a este escritor-criador e criativo (um destes dias explico o porquê, dedicando-lhe um post), mas ele acerta na mouche. Não transcrevo todo o texto mas apenas um parágrafo que espero suscite curiosidade para ler o original***:

"A Neura não tem cura porque os Portugueses, quando a têm, não a querem curar. Querem é alimentá-la. Quando estamos com a Neura é como se estivéssemos com uma grande amiga nossa. - "O quê? Não me digas que não conheces a Neura?" Caso a Felicidade bata à porta, não a deixamos entrar e, com a porta semicerrada, sussurramos-lhe "Desculpa lá, ó Felicidade, mas agora não dá. - é que estou com a Neura..." E a Felicidade fica na escada." (sic)

Para terminar, coloquemos os olhos no video de apanhados da Rituals, que a marca criou para uma campanha que tem o slogan apropriado a este post:
When you smile to the world, the world smiles back.
(Quando sorris para o mundo, o mundo sorri para ti. - minha tradução) 

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* sisudismo  - substantivo, palavra que deriva de sisudo (adj.), aquele que está sempre de trombas. Não confundir com elefante - esse não consegue tirar a tromba, por muito que se ria.
** witty-witmente - advérbio de modo de estar, derivante de witty wit (subst.); carateriza alguém que tem um sentido de humor espirituoso.
*** Neura faz parte de uma coletânea de crónicas em A Causa das Coisas.

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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Da al-qatifâ ao soalho flutuante, passando pela idade dos parquets


Em 1986 (tinha eu 10 anos) o Miguel Esteves Cardoso escrevia semanalmente crónicas para o jornal Expresso. Uma delas dedicou-a à alcatifa* (nome de origem árabe, al-qatifâ**), que então considerava "um dos grandes equívocos do século XX, expansões lanudas de grande monotonia e vulgaridade, (que) privam os pés de contactar directamente com a dura realidade do soalho, habituando o Homem a uma falsa impressão de onde pisa, criando nele o culto fútil e amaricado do 'fofinho'". Estes eram os anos em que os chãos que se pisavam necessitavam, de quando em vez, do seu "champooing" e outras manutenções de que as pessoas se haviam de arrepender, mais tarde ou mais cedo.

Eu lembro-me muito bem desses tempos e confirmo a moda. Quase toda a casa dos meus pais em Lisboa, para onde viemos morar mais ou menos nesse meado de década, era coberta nesse material, que amortecia muito os passos que dávamos, diminuindo o volume aos ouvidos das senhoras de idade que moravam no andar de baixo, de um prédio antigo com chão em madeira. Também o novo apartamento (a estrear) para onde nos mudámos nos finais dos anos 80, tinha o chão forrado a fofinha alcatifa, mundo apetecível e ideal para milhares de hediondas criaturas minúsculas, responsáveis pela maior parte das alergias de então (facto acrescentado por mim a esta narrativa mas não comprovado cientificamente).

O Miguel foi um visionário e anunciava, no final dessa crónica, o fim das alcatifas nos lares portugueses, imaginando que um dia mais tarde as pessoas se ririam com a simples menção à palavra 'alcatifa', que daria lugar a um mundo mais brilhante, de soalhos cintilantes e envernizados, livres da mordaça que durante anos os aprisionara. Tinha muita razão. Assim foi.
A época da alcatifa foi substituída pelos áureos tempos dos soalhos em parquet, madeira natural, que envernizada dava outra luminosidade a qualquer divisão. 
Mas este tipo de pavimento também exigia muitos cuidados. Encerar e afagar um chão coberto nesse material era muito trabalhoso. O meu pai (outro visionário mestre da bricolage) quando decidiu retirar a alcatifa, optou por cobrir o chão com tijoleira/ azulejada, outro material, já na altura em voga. Estávamos nos primórdios da década de 90. Ainda hoje é uma opção no revestimento imobiliário. Eu próprio, na minha casa atual, tenho este tipo pavimento em quase todo o chão da sala, menos no quarto.


Este material tem a desvantagem de ser frio. Por isso se tem optado por colocar o soalho flutuante, um material duradouro, relativamente barato, fácil de colocar, imita as propriedades da madeira, dá luz a uma divisão, é confortável e acolhedor. Mas o mercado está cheio das mais variadas soluções, das cerâmicas às madeiras flutuantes, dos mais naturais aos mais sintéticos. Os vinílicos, por exemplo, segundo a descrição de uma empresa especializada***, são "Pavimentos lisos, pigmentados ou estampados, de elevada resistência e fácil limpeza onde o Poliuretano retira a necessidade de manutenção." As opções abundam, para cada local específico que se deseja cobrir neste material: há os acústicos (com base em espuma e grande poder de absorção acústica e ao choque, "com propriedades bacterianas"), há os autoportantes (mosaicos com colagem adesiva), condutivos (ou anti estáticos, mais apropriados para zonas técnicas como salas de informática ou de cirurgia), há os 'paredes', "Impermeáveis, com tratamento fungistático e bacteriostático". Já o linóleo é fabricado a partir de óleo de linhaça, flor da madeira, pedra de cal, pigmentos e juta. É amigo do ambiente já que é biodegradável.

Falta aqui falar, por exemplo, da corticite, outro derivante da madeira que durante anos foi moda nos pavimentos mas que agora é moda noutras aplicações bricolágicas, da arquitetura ou do design ao mundo da moda e acessórios. Apesar da madeira ser um clássico material, recorrentemente usado, reutilizado e reinventado, a alcatifa vem de vez em quando pontuar um ou outro projeto de decoração de interiores. O que vem provar que não morreu, definitivamente. Ela adormeceu para se erguer sem as desvantagens que tinha nos anos oitenta. 

Espero que por esta altura o meu leitor não tenha desistido já de ler este post, aborrecido ou adormecido pelos termos técnicos sem interesse que discorri acima. Se ainda aqui está, gabo-lhe a paciência e agradeço a simpatia por continuar a ler. Apesar da descrição quase gráfica dos tipos de materiais, e além de alguma cultura adicional sobre pavimentação, que com certeza irá recordar da próxima vez que precisar de mudar aquele soalho lá em casa, fiz uma viagem à história mais recente dos pavimentos portugueses, cujas opções disponíveis dizem sempre muito sobre as próprias pessoas que os pisam. Sobre o seu estilo de vida, por exemplo. 

Agradeço ao Miguel, por esta reflexão, provavelmente na lista das mais inúteis que já fiz, mas que ainda assim não impediu que me inspirasse os pensamentos e a escrita. Como sempre faz a maior parte dos seus textos. Os meus - como este - nem de longe se aproximam dos dele, mas pelo menos a isso posso aspirar. Aspirar bem, para que não restem ácaros de dúvidas literárias.

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* O texto em referência tem como título Alcatifa e faz parte de uma coletânea de crónicas reunidas e editadas no livro A Causa das Coisas (1987)
** Para quem já não se recorde, alcatifa é "o nome que se dá a um tapete de fibra, de lã, ou outro material, com que se reveste totalmente o soalho de uma divisão" (In O Português sem Erros, 2009, Selecções Reader's Digest/ Texto Editores)
*** Não interessa a referência. Quem quiser saber o nome pode sempre googlar.

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