quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O coro numa tragédia de Shakespeare


Chama-se Romeu...
«Sonhei que a minha esposa veio ter comigo e me encontrou morto; [...] depois, com os seus beijos, ela insuflou-me a vida através dos lábios [...]” - Romeu, “Romeu e Julieta”, acto V, cena I
A primeira frase desta minha mensagem, só por si, pode ser o motivo para a leitura de uma obra apaixonante. No auge do período de obras de comédia, William Shakespeare (1564-1616) estreia com grande sucesso a peça “Romeu e Julieta” (1594-1595), a primeira das suas tragédias, a partir de uma história contada por Arthur Brooke.

É interessante reparar como Shakespeare, tantos séculos mais tarde depois das primeiras tragédias, insere, com o mesmo propósito, na acção desta peça o elemento coro, que, embora não seja estranho à acção, participa nela. O coro cantava, dançava e embora se mantivesse à parte da acção, interagia com os actores. Através dele a acção pode tocar o espectador.

Em “Romeu e Julieta” o coro “abre” mesmo a tragédia, num prólogo que “anuncia” a desventura e o terrível desfecho do drama amoroso no qual somos (leitores ou espectadores da peça) “mergulhados”. Novamente interfere na cena em que Julieta conhece o nome daquele que a beijou na festa dos Capuleto (cena V do acto I), relembrando o final que todos conhecemos (mesmo quem não leu ou viu a história, no teatro ou no cinema) reforçando o amor impossível que ambos sentem.

O emocionante enredo e a sua espantosa actualidade serão apenas dois dos ingredientes que fazem desta história intemporal a minha escolha e que aconselho vivamente. E porque é que eu, de tempos a tempos, volto a ler este ou outro clássico? Talvez porque, tal como eu, essas histórias tenham também evoluído no tempo, ou porque “nunca acabaram de dizer o que têm para dizer” (Calvino).

Romeo and Juliet, David Wilcox
«Deste modo passou para os meus lábios o pecado dos vossos.» - Julieta a Romeu, acto I, cena V
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALVINO, Italo – Porquê ler os clássicos (Teorema, 1993);
SHAKESPEARE, William - Romeu e Julieta (Grandes Clássicos da Literatura Estrangeira, Editora Planeta Agostini, 2003);

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