quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A obra de arte e a sua (des)construção


«Aquele que se concentra, diante de uma obra de arte, mergulha dentro dela.» - Walter Benjamim
Realidade Virtual (RV): prémio para o melhor oxímoro   
Um amigo enviou-me uma imagem de um cavalo, de Da  Vinci, que se passeia numa pintura de Turner. Pergunta: quem é o autor da “obra”? Turner, Da Vinci, o meu amigo... ou os três? Ao refletirmos sobre a identidade, a unicidade, a reprodutibilidade, e a facilidade (velocidade) com que os bits chegam até nós, imaginamos quantos elementos dessa imagem (picture elements, ou pixéis) se “perderam” pelo caminho. Não saberemos de que forma as interferências influenciaram a recepção. Nem devemos assumir, por mais precisa que seja essa “reconstrução”, que estamos perante o “objecto” original. Desde sempre as obras de arte foram reproduzidas, mas o hic et nunc e a aura (“alma”) do original perde-se, deixando-se “esvoaçar” pela cópia, assunto que W. Benjamim investigou pertinentemente (o exemplo do cinema.)



Da simulação ou imitação à estimulação
A arte, como foi conhecida durante séculos, está diferente. Há compradores das obras concebidas pelos robots de Leonel Moura, que diz “expandir as fronteiras do que se considera arte”. (Nunes) Somos seres que actualizam a forma como codificamos, transmitimos e recepcionamos a informação, modificando, até, o nosso modo de sentir e de perceber. A crise conceptual, que “ameaça” as formas de arte, que Lev Manovich refere em Post-media Aesthetics, terá origem na velocidade com que as novas formas artísticas se desenvolvem, a par com o desenvolvimento tecnológico. Será sinónimo de evolução cultural? A cultura actual é cada vez mais “interactiva, participativa, relacional e colectiva”. Mas essa “cultura de software” em que vivemos (Manovich), e as novas práticas de “fazer arte”, não substituem as da arte moderna.

Negroponte profetizava  que “ser digital é a opção de ser independente de normas limitativas.” (Negroponte:51) Teremos já entrado na (necessária) fase que Peter Weable  chama de  “estimulação”? Os processadores computacionais evoluíram, os objectos digitais parecem “menos pixelizados”-mais reais?- mas substituirão a experiência “ao vivo” que uma obra de arte proporciona.

Eu não quero que os meus átomos se virtualizem, nem apertar a mão a um robot! Terá o futuro já começado? (…) ‘Cause we are living in a conceptual world, and I am a digital boy.
«A Realidade Virtual pode tornar o artificial tanto ou mais realista que o real.” - Nicholas Negroponte
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REFERÊNCIAS BIBLIO E WEBGRÁFICAS

BARRELA, Nuno, FIRMINO, Joaquim e ALMEIDA, Vitor (2006) – Hipertexto e Hipermédia, in Concepção de Materiais Multimédia. Lisboa. Ed. Faculdade de Educação e Psicologia – Universidade Católica Portuguesa (excertos disponibilizados pelo docente da UC de Artes e Multimédia in http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/5460/Actividades_09/04/HIPERTEXTO_E_HIPERMEDIA.pdf ).
BENJAMIM, Walter (1936) – A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Tradução de José Lino Grünnewald do original alemão: "Das Kunstwerk im Zeitalter seiner techniscen Reproduzierbarkeit", em Illuminationen, Frankfurt am Main, 1961, Surkhamp Verlag, pp. 148-184. (publicada na obra A Idéia do Cinema, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, pp. 55-95, disponível em http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/
frankfurt/benjamin/benjamin_06.htm).
MANOVICH, Lev – Post-media Aesthetic. (Fonte: www.manovich.net/IA/index.html, acessado em 8/Abr./2006 e disponibilizado pelo docente da UC de Artes e Multimédia in http://www.moodle.univab.pt/moodle/file.php/5460/
Actividades_09/03/Post_media_aesthetics1.pdf).
MANOVICH, Lev (2008) - Software takes command, versão digital (link em www.manovich.net - http://lab.softwarestudies.com/2008/11/softbook.html).
NEGROPONTE, Nicholas (1995) - Ser Digital. Tradução de Francisco Silva. Lisboa. Editorial Caminho.
NUNES, Maria Leonor (2010) - Dossier A invenção do futuro. Jornal de Letras, Ano XXX, número 1031.
PACKER, Randall - Just What Is Multimedia, Anyway? Universidade da Califórnia, Berkeley (IEEEXplore – Digital Library in http://ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?arnumber=00752965 ).

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