quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A margem do erro


Sabia que no mundo há mais de seis biliões ( seis mil milhões ) de pessoas que NÃO passam fome? Ou seja, a maior parte da população mundial. Espero que o leitor faça parte deste grande grupo, mas este texto é sobre a outra parte.

Os inquéritos ou sondagens que se levam com muita frequência a cabo pecam sempre por não conseguirem resultados cem porcento corretos. Para já porque se tratam frequentemente de amostras de uma determinada população. À exceção de um census, que se destina a toda a população que se quer analisar. No entanto, mesmo neste caso existe o erro que é o da subjetividade, no que às opiniões diz respeito, já que os dados sociográficos (como a idade, género, altura, largura e outras gorduras sociológicas) são mais absolutos. E até estes costumam mudar: cada vez estamos mais velhos ou queremos parecer ( e até ser ) mais novos, estamos mais magros ou gordos, vivemos aqui ou ali, e mesmo quando não vivemos aqui podemos estar a passar uns tempos acolá. Acontece o mesmo no género de uma pessoa, que já foi bem mais fixo do que é atualmente.

Embora seja uma ciência social, a análise dos resultados deste tipo de método quantitativo de estudo não deixa de dar uma ideia sobre determinado assunto. Os estatísticos - os senhores ou as senhoras  que analisam as estatísticas - tendem a acertar ao meio, nas médias, nas medianas, lembrando-me aquele texto, que quase em jeito de anedota conta:

"Um biólogo, um antropólogo e um estatístico foram à caça. O biólogo apontou para o alce e acertou meio metro à esquerda. O antropólogo fez pontaria e acertou meio metro à direita. Vem o estatístico que diz que o resultado da caça permitiu acertar em cheio."

É caricata, esta média, mas a alegoria não deixa de estar correta e aplica-se neste tipo de análises baseadas na quantidade de dados. É caso para dizer que se eu comer um frango e o leitor não comer nenhum, pode dizer-se que ambos comemos metade. É a média da gula e da fome.
Na época natalícia que se aproxima e onde já mergulham a maior parte das cidades, incluindo as cidades comerciais, aproxima-se a generosidade globalizada das pessoas e a sua atenção volta-se para o ato de dar a quem mais precisa. Um ato que não se condena nem nesta, nem nas restantes épocas do ano. Uma dessas campanhas de solidariedade é no combate à fome, precisamente.

Mas vamos a números. Sabe-se que no mundo há mais de seis biliões ( seis mil milhões ) de pessoas que NÃO passam fome. Ou seja, a maior parte da população mundial. É na margem deste erro que se  encontra o 'erro' que vai para além da estatística e se entra na humanização da questão. Ou desumanização, pois o outro lado dos números esconde, deixando bem à vista, 805 milhões de pessoas que não têm comida suficiente para levar uma vida ativa saudável. Isto corresponde a uma em cada nove pessoas no planeta Terra. Quem o diz é a World Food Programme (WFP), "a maior agência humanitária do mundo no combate à fome mundial", que informa:

Dois terços do total da população com fome mora na Ásia, enquanto em África uma em cada quatro pessoas está mal nutrida. Aliás, a má nutrição ainda é a causa de morte em quase metade ( 45% ) das crianças com menos de cinco anos. São mais de três milhões de crianças por ano! E são cerca de cem milhões aquelas abaixo do peso ideal, uma em cada seis. E se as mulheres das zonas rurais tivessem o mesmo acesso aos recursos quanto os homens, o número de pessoas com fome no mundo podia reduzir até 150 milhões. A WFP calcula que por ano são precisos 3,2 biliões de dólares ( americanos ) para chegar a todos os 66 milhões de crianças com fome, em idade escolar. 

Estes são, grosso modo, os números das estatísticas. O problema é que cada número é uma pessoa e uma vida. E para essas não pode haver margem para erro, já que significa ter ou não ter o que comer. Tudo o resto fica em perspetiva: as luzes, a abundância, o consumir desenfreadamente. Não me interpretem mal: nada tenho contra o espírito natalício, que chama a atenção para o calor, o humano, a luz, a alegria, a cor. Espero é que seja extensível a todo o ano, em todos os gestos que nos obriguem, sem obrigação - senão a moral -, de sermos mais generosos e, consequentemente, melhores seres humanos. E que não nos queixemos quando tivermos a barriguinha cheia.

Já agora, porque não ajudar com um gesto tão simples como jogar um pequeno quiz da WFP, para testar o seu QI da fome? Para cada pessoa que o fizer, será dada uma refeição a uma criança. Faça-o e partilhe:

http://quiz.wfp.org/

Resposta para o mail:
"You took the quiz - and fed a child!"
Ou então, para quem quiser ajudar e ao mesmo tempo assistir a um espetáculo de fado, pode aparecer no próximo domingo, dia 7, às 18h30, no Palácio Foz, no Cantar o Fado Contra a Fome. Vários fadistas e dois guitarristas participam solidariamente, juntamente com outras empresas, associações e instituições, para que este problema ( que ainda é um flagelo ) seja erradicado da face da terra.  O preço do bilhete é acessível ( de 5 a 25€ ) e aproveita para ouvir boa música, conhecer um espaço secular de requinte e brilho, enquanto contribui para um mundo melhor. É melhor assim.

( mais informações )

FAZ LIKE NA PÁGINA DO FACEBOOK 



Sem comentários:

Enviar um comentário