sexta-feira, 18 de abril de 2014

Balões em alta


A literatura inspira o cinema, a pintura a literatura, etecetera, etecetera, etecetera (assim mesmo, por extenso). O vice-versa aplica-se aqui sem restrições. Nada de novo. Relembro um filme que inspirou um objeto de design. Le ballon rouge, de 1950, é uma deliciosa obra cinematográfica aparentemente apenas sobre um rapaz e um balão vermelho que ganha vida e lhe foge, do princípio ao fim. O antropomorfismo do objeto está tão bem escondido pela técnica cinematográfica que a técnica aparece invisível, como o são as boas técnicas cinematográficas. Nada contra as óbvias técnicas. Pelo contrário. Algumas (quer dizer... Atualmente a maior parte) são tão boas que os seus efeitos cegam a história que no filme verdadeiramente importa. Neste filme com mais de meio século, o realizador Albert Lamorisse foi hábil em mostrar que o que é diferente muitas vez não é percebido e por isso é perseguido. Cinema sem demasiados ou óbvios efeitos especiais mas muito especial e muito espacial. É um filme sobre a não aceitação mas sobretudo ensina, forma as mentes para a beleza que pode existir (e que existe) em tudo. Mesmo num simples balão, objeto tantas vezes sem vida, que tantas vezes paira inerte no ar. Este, pelo contrário, como muitos balões na vida, ganha o ar de que é feito para nos inspirar: a ser melhores pessoas; a vivermos melhor a vida; a olharmos melhor o mundo; a perseguirmos os nossos sonhos (mesmo que nem sempre os alcancemos); enfim, a tornar-nos melhores pessoas. E a inspirar-nos.

Assim o fez para que eu lhe dedicasse este texto (há muito entalado nos confins da minha inspiração). Ou inspirando outros criadores, como o designer Satoshi Itasaka que criou Balloon Chair. Nesta cadeira os corpos não se sentam simplesmente: eles elevam-se no ar, como o próprio objeto que parece levitar. 
Mais uma prova das tantas que se encontram a cada segundo, de que as obras de arte são constantes obras abertas que nunca se fecham quando terminam. Elas simplesmente aguardam por uma interpretação que as faça continuar a viver. É isso que acontece quando vemos um filme, lemos um livro ou nos sentamos numa cadeira que alguém, com maior ou menor inspiração, criou.
Sit down, relax, breath, dream and create.

Mais em www.mymodernmet.com/profiles/blogs/h220430-balloon-chair

Sem comentários:

Enviar um comentário