terça-feira, 22 de abril de 2014

Sobre a liberdade de sacos vazios e vivos


Como as ideias são como as palavras (e há quem diga que também como as cerejas), atrás de uma vem sempre outra e a seguir a um post sobre balões e outras inspirações, lembrei-me de outro objeto voador (identificado) que paira no ar no filme Beleza Americana (American Beauty, 1999), de Sam Mendes. Nesta obra, além da famosa cena da bela moça num mar de pétalas vermelhas, recordo uma outradesde a primeira vez a que assisti a esta obra já clássica da cinematografia americana no mítico lisboeta S. Jorge: a do saco voador filmado pelo jovem personagem Ricky (Wes Bentley - sim, o mesmo ator de Hunger Games... Surpresos?)

Surpreendente é como passados 15 anos ainda tenha presente as palavras que acompanhavam essa dança do inanimado. Qualquer coisa do género "Há tanta beleza no mundo que nem sei como eu aguento!" Embora confiante da minha memória fui rever e recuperar as palavras exatas:
"Ricky Fitts: You want to see the most beautiful thing I’ve ever filmed? It was one of those days when it’s a minute away from snowing and there’s this electricity in the air, you can almost hear it. And this bag was, like, dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. And that’s the day I knew there was this entire life behind things, and… this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video’s a poor excuse, I know. But it helps me remember… and I need to remember… Sometimes there’s so much beauty in the world I feel like I can’t take it, like my heart’s going to cave in."
Há realmente tanta beleza no mundo e nem sempre se encontra nas coisas mais belas. 
Ricky capta em super 8 e mostra à namorada as suas cenas, quando o YouTube ainda iria demorar  cerca de cinco anos a aparecer e a tonar a partilha digital mais rápida, perdendo-se o necessário tempo da digestão pelos sentidos das coisas simples da vida. Como este blog, assim que for lido passa ao próximo, tal qual um ciclo da vida que o vício das trocas de tudo e mais alguma coisa eterniza.
Ricky é um voyeur do mundo e da vida que existe mesmo num objeto inanimado, animado pelo vento, acabando por nos mostrar que afinal ele vive. Como um paparazzi, que lembra o Jeff (James Stewart) de Janela Indiscreta (Rear Window, 1954), de Hitchcock.
Como muitos outros realizadores (e criadores), Sam Mendes também coloca o filme dentro do próprio filme, a obra dentro da obra, as mensagens dentro das ideias, e assim sucessivamente, como uma matrioska cinematográfica. Bom, mas regressarei a este (rico) tema noutros posts futuros. 


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