segunda-feira, 14 de julho de 2014

1 corpo 100 livros


Gosto tanto de palavras. Principalmente das da língua portuguesa, que permitem que se brinque com elas como poucas outras línguas. De todo o tipo de palavras: das escritas às faladas.
Elas permitem interpretações várias. Como as que se podem fazer das palavras de Cícero:

Uma casa sem livros é como um corpo sem alma

Eu, por exemplo, vejo nela um mote de vida, mas um mote que não se leva à letra (nem às palavras). Para mim não quer dizer que se tenha de encher a casa (ou o disco rígido) de livros, mas de palavras, de histórias, de acontecimentos, de conhecimentos. Podem ser as histórias que aquele familiar conta, que a televisão mostra, que a vida permite viver. As histórias que se falam, que se ouvem, que se escrevem, que se lêem, que se partilham.
A nossa vida é uma história que vamos criando à medida que a vamos preenchendo com as palavras que vamos vivendo. As palavras veem das pinturas que vemos, da música que ouvimos, do teatro e do cinema em que sonhamos, das coisas que tudo ou nada querem dizer, muitas vezes até sem sequer se utilizem as ditas ( ou escritas).


Assim vou vivendo o scrabled jogo da vida, em que se ganha tanto quanto se pode perder. Muitas vezes perdendo-me nos sentidos que ela dá às palavras, trocando os trocadilhos pelos andarilhos da língua. Isto atribui à minha alma o corpo de que ela precisa. Assim constrói a minha casa, que sou eu mesmo, do tamanho que eu quero que ela seja: muito maior do que o meu pequeno corpo. Seja ele T0, T1, V5 ou duplex, com ou sem varandas ou terraços, mas de certeza com janelas para o mundo. Nele vivo, de aluguer, emprestando as minhas palavras e pedindo emprestadas as dos outros. Esta troca, mesmo sendo completamente ou suficientemente baldroca, é que faz com que a minha vida não descambe para a banalidade. 

"Habent sua fata libelli pro capite lectoris." (Os livros têm o seu destino consoante o entendimento do leitor.)
Apud Lev Tolstói 

É mais ou menos isto que vou entendendo.

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