Passei os olhos pela sala, a admirar a azáfama, aproveitei para ver se estava tudo bem. De repente os meus olhos passaram por uma figura alta e esguia, loura e bonita, uma mulher com um vestido esplendoroso. Não percebo nada de moda, por isso não consegui distinguir se era Chanel. Mas percebo de cinema e de mulheres bonitas, por isso identifiquei logo a atriz, estrangeira: Nicole Kidman. Esplendor ao vivo. A sala estava triplamente iluminada.
Hesitei. Pensei em ir ter com ela, ela estava numa pausa de uma cena, junto a uma das janelas e o sol que dela irradiava multiplicava o seu esplendor, ao refletir nos cabelos louros e a iluminar-lhe os olhos, ainda mais claros pela luz que vinha dos Restauradores. Hesitei novamente, mas não podia deixar passar a oportunidade. Não queria autógrafo. O que me apetecia era algo... mais. Como o meu desejo por aquele chocolate branco não se esvanecia, ganhei coragem, aproximei-me da janela e disse-lhe, quase a sussurrar, quase a cantar:
- We should be lovers...Ela entendeu, mas não replicou nem pareceu surpreender-se. Desviou o olhar como que a dizer "Não podemos!". Eu voltei à carga, dizendo-lhe baixinho que “We should be lovers! And that's a fact. We could steal time... Just for one day. We could be heroes, Forever and ever.” Ela parecia fixada no sinal do Hard Rock Café, do outro lado da Praça e sem olhar para mim perguntou-me o que é que eu realmente queria. Levei a mão ao bolso e ela nesse momento virou-se, talvez assustada. Puxei do meu telemóvel e perguntei-lhe:
- Podes tirar uma selfie comigo?(Nesta altura ela até português já entendia.)
Não negou o meu pedido e antes que a sua assistente viesse em seu auxílio, tirámos rapidamente a selfie. Separámo-nos logo de seguida e cada um seguiu o seu caminho e o seu trabalho: ela a filmar mais uma cena, eu a acenar-lhe, retomando a minha rotina, circulando, sozinho, a vigiar e a vaguear pelas restantes salas nobres do Palácio. Não consegui partilhar imediatamente a fotografia no Facebook. Fiquei a olhar para ela e comecei a trautear uma música, inspirado por aquela musa.
- It’s a little bit funny, this feeling inside. I’m not one of those who can easily hide. I don’t have much money but if I did…(Nesta altura eu já tinha aprimorado o meu inglês.)
Perdido na cantoria, distraído pela sensação que ainda tomava conta de mim, encontrei um microfone no chão, provavelmente deixado cair pela produção. Peguei nele e continuei a cantar, ainda inspirado:
- Don't, leave me this way. I can't survive, without your sweet love, Oh baby, don't leave me this way.Não sei exatamente o que se passou a seguir. Pensava estar só naquela sala, mas um homem estava a um canto, a ouvir-me. Veio ter comigo e disse-me que era o realizador do filme e que queria que eu participasse nele.
- Mas eu sou só um segurança.Disse-lhe eu, que naquele momento não segurava nada, a não ser o microfone. Mas ele não estava a brincar. Fez de mim o protagonista do filme e de um momento para o outro o estrelato não estava do lado daquela atriz australiana, esplendorosa, mas do meu. Eu era quem lhe roubava as atenções. Depois de filmarmos a última cena, ouvi a Nicole a dizer, ao longe, em tom invejoso e com desdém:
- Some people wanna fill the world with silly love songs.(Nota: esta cena foi tirada, e inspirada, de um sonho verídico.)
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