sexta-feira, 25 de julho de 2014

Lucky strike num jogo analógico


É provável que a Geração  Y (do novo milénio e da internet) já não saiba o que quer dizer a palavra analógico, muito por causa do mundo cada vez mais digital(izado). Os jogos seguem o mesmo caminho e exercitam mais a mente e a ponta dos dedos do que o corpo. Se a mente está sã, o corpo também deve estar, pelo menos segundo a conhecida máxima. Mas no verão, na praia, no campo ou na montanha, analogicamos o corpo ao jogar às raquetes, ao disco, à bola e à bóia. E aos típicos jogos de cartas. Como o famoso Uno (marca registada, não por mim, senão estava rico). 

Fiz questão de comprar este jogo analógico (vou repetindo a palavra, para que ela não caia para sempre em desuso) para promover a interação humana, olhos nos olhos, normalmente em encontros regulares ou esporádicos entre familiares e amigos (alguns conhecidos). Ele permite uma sociabilização face a face, permite descobrir expressões, enganos entre sorrisos - poker face - que os jogos digitais tentam substituir (alguns com algum sucesso, admito e admiro). Mas não é a mesma coisa.

O último jogo de Uno que joguei - há muito pouco tempo, na praia - foi a três. Apesar do nome, sozinho não tem piada. Estava com o João e com a Sónia. Devo dizer que nenhum dos dois gosta ou é propriamente bom a perder. Eu, pelo meu lado, finjo que não me importo, e que jogo apenas para o desporto convivial. Ganhei a primeira ronda em poucos segundos, graças a uma boa carta, jogada no final. A segunda também demorou uns atípicos segundos e ganhei-a novamente. Ao final da terceira, ganha quase da mesma forma e sem esforço algum que merecesse a vitória - a não ser a bafejada sorte - já achávamos estranho e eles sugeriram:

- Eh pá! Tens de jogar no Euromilhões!

Na distribuição da cartada seguinte, a Sónia sugeriu que as cartas destinadas a mim ficassem com ela, as dela com o João, e as dele comigo, para testarmos a hipótese. Como aquele filme, Destino Final (Final destination), em que os sobreviventes de alguns acidentes mortais tentam enganar a morte, que teima em procurá-los. Ganhou a Sónia, que tinha ficado com as minhas cartas. De boca ainda aberta, incrédula com esta tentativa frustrada de enganar a minha sorte, resolvemos passar as minhas cartas, da jogada seguinte, para o João. O resultado foi de idêntica admiração, quase assustados com o sucedido. Para tirar dúvidas, de que se tratava de demasiada sorte fora do comum, voltámos a jogar, desta vez cada um ficando com a cartada que lhe tinha sido atribuída. Ganhei, com uma jogada de pura sorte, sem nenhum trunfo: era aquela cor ou aquele número. As hipóteses eram reduzidas, talvez de 1:4. Arrepiei-me. A Sónia largou as cartas como se tivesse visto um fantasma. Nesta altura já estávamos num misto de espanto e susto. Mudos.

Nessa semana não ganhei o Euromilhões. Não sei se o facto de não ter apostado terá tido alguma influência nessa pouca sorte. Mas se a sorte, realmente existisse, não deveria ter-me procurado para entregar o prémio, independentemente de ter apostado ou não?

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