E para visitantes que gostavam de saber como os identificar e deles fugir a sete pés.
Há visitas guiadas vivas, que entusiasmam e suscitam, de forma natural, o interesse pelo assunto que se está a expor, a mostrar, a explicar. Alguns assuntos não precisam que o apresentador seja muito bom na sua exposição e têm um interesse quase por si. Mesmo assim, a apresentação, se for muito pobre, não conseguirá tirar todo o partido do objeto ou história a ser apresentada. Outros assuntos com interesse menos óbvio, precisam de ser bem contados.
Uma história, por muito interessante que seja, quando apresentada desinteressadamente, também faz com que o ouvinte ou visitante perca o interesse nela.
Há guias que sabem como contá-las para envolver o publico. Outros há que, mesmo conhecendo e tendo muito interesse pelo assunto que está a expor, cai em vícios, muletas e erros que, juntamente com uma longa exposição, conseguem aborrecer e, até, adormecer. Assisti a esta situação, numa das últimas visitas em que participei, como visitante.
Não sei se existe algum tipo de café específico que o visitante possa tomar, para sobreviver acordado a este tipo de visitas. Para o apresentador-guia-contador, há uma série de técnicas que ele pode seguir para prevenir a situação, sem que seja preciso um beijo de Bela Adormecida. Não vou ser exaustivo, mas deixarei as que considero mais importantes.
Antes da visita:
- Planear a visita. Isto é tão óbvio, que muitas vezes se negligencia. Por vezes o guia conhece tão bem o assunto que pensa não ser necessário perder algum tempo a alinhavar as ideias e a criar uma história, que irá contar aos visitantes.
- Treinar a apresentação. Pelo mesmo motivo. O guia está tão confiante de si que considera desnecessários o treino e a prática da sua apresentação, antes do momento propriamente dito. Uma visita é como uma espécie de peça de teatro. Se não tiver este cuidado, o mais provável é que venha a ser o protagonista da sua própria tragédia.
- Saber o tempo que demorará. Não há nada pior (quer dizer, se calhar há...) do que, passadas duas horas de uma visita chata (por causa da apresentação, não do assunto) e ter um visitante a perguntar quanto tempo ainda falta. Pior: (eu avisei que podia haver pior) o guia responder que não sabe:
- Depende.Depende do quê? Do estado do tempo? Das marés ou posição da lua? Do que ele comeu ao almoço? Um bom guia sabe quanto tempo demorará a visita, mesmo na pior das hipóteses, se a tiver bem planeada, preparada e treinada.
Durante a visita:
- Contar uma história. Como um bom contador de uma história guiada, o guia deverá conseguir envolver o visitante na sua narrativa.
- Não apresentar uma cronologia. Uma boa narrativa tem um princípio, meio e fim. Entre o princípio e o fim podem criar-se picos de interesse na trama. As datas servem para situar a história no tempo. Mas não lhes deve ser dada mais importância do que aquela que a história realmente tem.
- Salientar factos interessantes. Curiosidades factuais suscitam a curiosidade das pessoas. Logo, o seu interesse. Logo, impedirão o aborrecimento de morte.
- Modelar o tom de voz. Importante para que o mundo dos sonhos não tome o lugar do mundo da exposição que se está a visitar. Não há nada melhor para embalar um visitante do que contar-lhe uma história de adormecer. Quer dizer há: é contar a história num tom monocórdico.
- Interagir e criar empatia com o visitante. Se a história for bem contada, se o guia olhar para todas as pessoas com um sorriso nos olhos (mesmo quando o que se diz não tem piada), sem mostrar enfado mas entusiasmo, se for música para os ouvidos do visitante, a visita será um sucesso ainda maior.
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