quinta-feira, 15 de maio de 2014

Auto para um pastel de Belém


Sou um objecto real, quase a tocar o surrealismo. Sonhar, diz-se que é normal, mas os meus desejos são puro futurismo

PERSONAGENS: Futurismo | Realismo Chamado Neo | Naturalismo | (meio) Surrealismo | Manifesto | Performer que também é Polícia

ACTO I (e único)

Cena 1 (também filha única)

O pano está descido. A cena podia passar-se num café do Chiado, mas encontramo-la numa esplanada para os lados de Belém. Os personagens são actores de uma peça de teatro que está prestes a começar e que não teve ensaios: nasce do improviso. Estão sentados à mesa o Futurismo, o Naturalismo e o Realismo. Discutem animadamente a novela das 8 do dia anterior.

NATURALISMO – Eu sou a Personagem! (Entra o Manifesto).

MANIFESTO – (saca de um dedo) – PUM! - (O Naturalismo cai no chão. Entra o Polícia, que também é Performer).

POLÍCIA, QUE TAMBÉM É PERFORMER – O que é que se passa aqui?

REALISMO CHAMADO NEO – Foi o Manifesto que se manifestou com uma bazuca de três letras, disparatando contra o Naturalismo!

(MEIO) SURREALISMO – E o Naturalismo caiu inanimado no chão.

REALISMO CHAMADO NEO – Naturalmente. Ainda bem que não o confundiram comigo. É muito comum...

FUTURISMO – Com rigor, devo dizer, era o destino. Isso é que é uma realidade.

REALISMO CHAMADO NEO – Eu sou a Personagem e sou Eu!

POLÍCIA, QUE TAMBÉM É PERFORMER – (para o Manifesto) Mas você não sabe que as letras de bazuca são proíbidas? Quero que vá imediatamente comprar uma caixa de pasteis aqui prá malta. E numa caixa azul!

(MEIO) SURREALISMO – (chamando o empregado) É a conta, fáxavori.

(sobe o pano)
FIM


«Só a imaginação transforma. Só a imaginação transtorna.»  
Mário Cesariny

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