terça-feira, 6 de maio de 2014

Saídas limpas com salários kinder




A saída limpa do resgate é o tema do dia. Isso e o facto do Benfica estar a ganhar jogos a torto e a direito. O que não sei se para os benfiquistas é uma coisa boa, já que com tanta festa até parece que nunca ganham nada. Não sei se sim nem se não: não me meto em políticas. 
Quanto à saída limpa, troikas e outras cenas do género, não sei o que é que isso quer dizer, apesar de todas as tentativas de esclarecimento que acompanham estes temas, com os habituais comentadores mediáticos e de bancada. Não é que não queira saber! Bem... querer, querer, também não quero. Mas tento pelo menos entender. Este assunto, como outros do género BPPs, BPNs e ilibações de fraudes milionárias (ou bilionárias), parecem-se com aquelas galinhas e maçãs podres: cada cavadela cada minhoca. Mas entre minhocas e outros vermes, quem habitualmente se lixa é o molusco. 

Com tantas promessas curtas e irrevogáveis decisões com síndrome da Dóris (ver Finding Nemo), o que eu gostava de entender é o que é que quer dizer uma "saída limpa". Qual é o detergente milagroso que vai deixar isto tão branco, que não haja forma de enganar o algodão? Terão estado as coisas alguma vez realmente cândidas? Ou terão estado os anos de candura camuflados com uma falsa realidade que iludiu as nossas vidas com a riqueza que nunca tivemos?
Seja como for, se é justo que paguemos todos, sê-lo-ía de facto se o pagamento fosse feito pela mesma medida de quem mais culpas teve no cartório (todos nós, mas uns mais do que outros). E não tanto a classe média, que há muito perdeu a classe e que caminha a passos largos para a mediocridade. 
O que é preciso é ter fé que um dia destes os impostos não subam mais do que o poder de compra das pessoas, esperar que os salários deixem de ser todos os meses uma surpresa conspurcada das chafurdisses alheias e que um dia as pessoas deixem de viver tão ansiosas. Com muita sorte e depois de tanto sacrifício, talvez um dia voltem a ter um brinquedo saído do vencimento desse mês que dê para brincar mais do que apenas contar tostões para comprar pão e leite. 

"Garçom, faça as contase diga-me quanto devo.
Ah, o que consumi?Amor, café, mágoas, lágrimas, solidão e um doce.
- O senhor só me deve uma vida e dez centavos."

Custo de vida, Poeta anónimo, Brasil, anos 70 (ditadura militar)

Créditos da imagem: 
Sunlight Liquid Detergent: Pig  / Advertising Agency: Lowe, Bangkok, Thailand / Creative Directors: Ricardo Turcios, Ruchi Sharma / Copywriters: Ej Galang, Sarah Ko, Gabriele Espaldon / Art Director: Katrina Encanto / Photographer: Surachai Puthikulangkura / Illustrators: Surachai Puthikulangkura, Supachai U-Rairat

Sem comentários:

Enviar um comentário