O sol, o dia e as águas
Num dia de janeiro
Juntaram-se e fizeram
O seu pacto primeiro
O jogo fica, embala
E dura, longo até junho
E em voz estridente soaram,
Gritaram: - É para vós este mundo!
Não sentem dizer:
Estou aqui, era inteiro
Até que vós me magoastes.
É pois, este, o acto III.
A estação, neste mês,
Esconde o frio, é um escudo
Como negra viuvez
Tal inverno sisudo
A chuva, então, a cantar
Cai na terra e ajuda a videira
A sua uva nascer, a brotar
Diz, já fruto, à sua parteira:
-Tão boa, tão fresca tu és
Nesta vida já vivo e bem fundo
P’ra beber só tenho a raiz
P’ra viver tu és água, és tudo.
A madrinha esconde a sorrir
A modéstia que é vez primeira.
Não a vemos pois está a fugir
Tal a chuva na tarde soalheira.
Vai embora, não diz quando vem
E as flores aguardam, contando
Às roseiras, avós de sua mãe
As histórias que haviam escutado.
Imagem: detalhe de Fluid Painting 58 (2012), acrílico sobre tele,
Mark Chadwick (www.markchadwick.co.uk)
Mark Chadwick (www.markchadwick.co.uk)
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