segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Daqui parece que sou minúsculo



Daqui Parece Uma Montanha é o título da exposição temporária de arte contemporânea que inclui obras de artistas da Áustria, Dinamarca e Portugal. Com curadoria a cargo de Luísa Santos, pode ser visitada desde 5 de junho no CAM (Centro de Arte Moderna da Gulbenkian).
Até ao próximo dia 21 de setembro ainda podem ver, ouvir, enfim, experienciar a exposição que aos domingos é gratuita. 
Podem aproveitar para ver ou rever, com o mesmo bilhete, a exposição permanente.

As notas que aqui deixo sobre a exposição não são exaustivas. São apenas impressões das obras que mais me chamaram a atenção e à reflexão. Daí a sua seleção.

A primeira obra da exposição é de Katharina Lackner (1981) inclui-se em três binómios: grande e pequeno; ilusão e real; desconhecido e familiar" que se pode ver e experimentar mesmo antes de entrarmos na exposição propriamente dita, no hall de recepção, bilheteira e livraria. Trata-se de um "chapéu de chuva gigante (Slide, 2009-2013), suspenso pelo teto (que) permite passarmos de um lado ao outro do Hall. A experiência de pegar neste chapéu ampliado transporta-nos para o lugar da infância, como se fossemos personagens em histórias como as Viagens de Gulliver (1726), de Jonhatan Swift."

Uma enorme fotografia a preto e branco de uma montanha (Mountain, 2013), de Gregor Graf (1976), domina a primeira sala, mas é a instalação Amontoar em Carga e Descarga (2012-2013), da portuguesa Dalila Gonçalves (1982) que me chama a atenção. Ao longe, parece-me um gráfico de barras, mas também uma cordilheira de montanhas. Vista de perto, verifica-se que são esferográficas pretas com mais ou menos tinta e que dão essa ilusão pictórica.

Amontoar em Carga e Descarga (2012-2013), da portuguesa Dalila Gonçalves (1982)

Numa sala contígua entro, sozinho. Lá dentro apenas escuridão e uma caixa, aparentemente um piano com a tampa aberta. Vista de perto Pianoforte (2014), do austríaco Gregor Graf (1976) é apenas uma caixa negra com interior cândido, pés de piano. A instalação é acompanhada pelos acordes fortes de um piano, som que se ouve assim que se entra nesta sala e que nos dá a ilusão auditiva de que vem de dentro daquela caixa.

Pianoforte (2014), do austríaco Gregor Graf (1976)

É a gaiola gigante de circo Cage and Mirror (2011), do dinamarquês Jeppe Hein (1974), que domina a principal sala da exposição. Pela dimensão em tamanho das suas grades de aço, que nós aprisionam quer cá fora quer lá dentro, mas também pelas dimensões para as quais nos transporta através do enorme espelho circular suspenso em movimento de rotação ininterrupto no centro da gaiola onde podemos entrar. Ali ora aparecemos (no nosso reflexo) ora desaparecemos (no seu movimento). Aí "somos também, simultaneamente, observadores e observados, numa exposição inevitável e indesejável."

Cage and Mirror (2011), do dinamarquês Jeppe Hein (1974)

Mais à frente Dalila Gonçalves volta a iludir-nos, desta vez colocando-nos a pensar sobre o tempo, sobre os segundos da vida em Sustenido (2014). "O que parece uma linha de horizonte desenhada é afinal um conjunto de ponteiros de relógios maiores e menores, que impedem a passagem uns dos outros." A acompanhar, o barulho, o som, do tempo a passar. Tick, Tack, Tick, Tack...

A alta estrutura metálica de Pays/scope (2012), do português Miguel Palma (1964), contrasta propositadamente com a dimensão do resto das restantes obras e perante nos próprios. "O espelho no cimo da torre que nos confronta do alto dos seus seis metros revela que estivemos a ser observados num olhar telescópico da realidade." Uma vez mais o espelho, também redonda, onde procuramos reflexo: para uma maior elevação?

Pays/scope (2012), do português Miguel Palma (1964)


Explica a página em linha do CAM que
"A exposição Daqui Parece Uma Montanha reúne artistas contemporâneos austríacos, dinamarqueses e portugueses, que a uma primeira leitura, poderá parecer um panorama artístico destes países. Numa observação rápida dos três países, que todos são todos pequenos, fazem fronteira com países maiores com quem tiveram uma História difícil e com os quais mantêm uma relação estranha de comparação. Uma observação mais atenta permite um paralelo com a condição humana e a construção de uma série de dicotomias que a caracterizam. É precisamente nesta construção que a história da exposição se desenrola. As personagens (os trabalhos) desta história unem-se numa série de binómios: o grande em confronto com o pequeno; a ilusão do que o Outro parece ser e o real do que o Outro é; a relação observador e observado; a contradição entre desconhecido e conhecido. (...)
As surpresas deste percurso sentem-se no confronto. O confronto com o que é maior do que nós; o confronto com a idealização e a realidade; o confronto entre o desejo pelo desconhecido e a necessidade de refúgio. Estes pontos de confronto remetem para sintomas de um campo social comum que transcende fronteiras geográficas: daqui (seja de onde for) parece uma montanha." (CAM)
E nós tão pequeninos perante tão gigante criatividade.

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