segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Medos que dão lucros (2009)


O seguinte texto data de há precisamente cinco anos aquando da 'moda' da gripe A (ou H1N1, para quem gosta de preciosismos científicos). A moda pegou e pagou milhões de euros e dólares, e outras moedas mais ou menos fortes, aos senhores da indústria farmacêutica. Cinco anos depois o vírus que agora preocupa o mundo é outro e não tem cura nem vacina. Talvez não haja ainda número suficiente de infetados que o justifique. A doença, essa, tem quarenta anos e chama-se ébola.
Mas hoje recordo a epidemia que afligiu todo o mundo há pouco tempo. O suficiente para incutir nos hábitos diários de muito boa gente a embalagem com gel desinfetante, com ou sem cheiro.

* * *

1 de Setembro de 2009. Fim de férias (para quem as teve no “querido” mês de Agosto), regresso à rotina (para quem a tem, nos restantes meses não tão “queridos”). Regressa também o medo das gripes... ou nem por isso? As indicações do Ministério da Saúde estão espalhadas por todos os lados (televisão, rádio, jornais diários ou semanais, pagos ou gratuitos, revistas – sérias ou de “brincar às bonecas e aos bonecos” -, paragens de autocarros, nos próprios autocarros - e outros transportes públicos, com rodas ou sem elas -, etc)... (muitos etc).
A verdade é que não podemos ver (nem ouvir) ninguém a espirrar ou a tossir (que não faça como recomendado), sem que tentemos fugir para o local mais afastado possível, a fim de evitar a tal contaminação.

O juízo está feito à partida: quem espirra (ou tosse) não acredita que é gripe: é apenas constipação. Para quem vê (ou ouve), acredita imediatamente que é o vírus da letra A. Mesmo quando finge não acreditar, brinca, com expressões “Ai a gripe A”. Eu corrijo: a expressão devia ser “Ai a gripe, ai”.
Por mais que se fuja, estamos (os comuns “mortais” que viajam de transportes públicos) limitados ao número de lugares sentados ou em pé, e não há muito por onde fugir.
Usar uma máscara, dizem os entendidos, não “funciona” para quem não foi “apanhado” mas para evitar a transmissão por quem já a “apanhou”.

Depois há a questão das mãozinhas: onde as pôr? Para quem espirra (ou tosse), nunca à frente da boca quando o faz (vamos lá lembrar-nos de utilizar o antebraço ou temos lá tempo de puxar pelo lenço de papel, que nunca está à mão...). Quem (ainda) não tosse (ou espirra), é inevitável ter de agarrar ou tocar nas diversas coisas que tem para agarrar ou tocar no dia-a-dia: nos transportes (para quem os utiliza), nos cafés, restaurantes, bares, discotecas ou boites, o garfo, a faca, os copos, e outros etc...

Fugir para outro país, temo que também não resulte (a julgar pelos mapas e gráficos tão divulgados): mais tarde ou mais cedo, há-de lá chegar.

Depois vêm as teorias que tentam explicar o “fenómeno”: umas, que isto é “obra” das farmacêuticas e dos hospitais (afinal de contas, as doenças são o seu ganha pão... ou deve dizer-se “milhão”), que têm de escoar o produto (o já famoso Tamiflu – pelo sim pelo não, é melhor andar com uma embalagem no bolso, como o outro senhor apresentador de televisão). Outras, afirmam que esta gripe não fará tantas vítimas como a “outra”, a dita “normal” (que, pasme-se, faz mais danos, por ano, do que possamos imaginar).
De uma forma ou de outra, já todos entrámos em pânico calmamente (como disse um outro).
Se por um lado a mensagem do dito Ministério é não alarmar mas tentar prevenir (neste momento a prioridade já não é a prevenção mas a imediata contenção do “alastramento”), a comunicação social dá conta, minuto a minuto, do estado da pandemia – o que não ajuda e lá estamos nós todos, calmamente, a panicar.

Há que tratar, sim, as pessoas afetadas e infetadas, mas há que tratar o civismo de todas as outras que (ainda) não foram. A educação e o respeito que temos (ou devemos ter) para com os outros podem, neste país (já) desenvolvido, minorar este problema mundial e de todos nós.

Pelo menos até à próxima gripe (a “B”, se seguir o alfabeto). Enquanto isso, uns rezam, outros aguardam que não lhes “toque” a eles (ou aos próximos) ou que algum milagre (ou descoberta científica) aconteça e vá “destruindo” todas estas “doenças”.

Até lá, atenção aos gafanhotos, perdigotos e outros “otos”, que se vão “espalhando” pelas bocas e narizes deste (Portugal) mundo.

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Atenção: a opinião do autor é meramente lúdica e não deve ser encarada como forma de prevenção de gripes nem constipações, sendo que os efeitos secundários mais prováveis (registados em pelo menos 99% dos indivíduos – 1% estaria distraído na altura que lia o artigo) é o riso e a boa disposição. No entanto, se o caro leitor puder ou quiser fazer alguma coisa para melhorar o estado da pandemia, siga à risca o plano existente – resumindo: lave as mãos periodicamente, utilize o lenço ou o antebraço para espirrar, não saia à rua ou vá para locais com muita gente se tiver os sintomas (devendo ligar para a linha divulgada) e sobretudo: não espirre ou tussa para cima dos outros.

1 comentário:

  1. Tal como tudo na vida também as doenças são cíclicas , tal como as crises, as guerras e as políticas ou seja tudo o que derivar em lucros para alguns servirá para assustar a maioria!

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