domingo, 28 de setembro de 2014

Movifostes ou Movi-à-flor-da-pele


Mostrem-me um português da classe média ou baixa que nunca tenha feito uma compra na Moviflor, e eu mostrarei o meu espanto e a minha incredibilidade. Durante anos foi a Meca de quem procurava aquela estante, aquele móvel, aquele sofá, aquela cama com mesinhas, guarda roupa e cómoda a condizer, aquela mesa de escritório com a respetiva cadeira, aquele abajur, candeeiro, cortina, tapete ou qualquer acessório para a casa. Ainda me lembro dos tempos em que a única loja (se não a única, uma das poucas) era a concorrida e publicitada do Largo da Graça, em Lisboa. Há uns tempos que lá não vou, mas lembro-me que uma das últimas vezes não só não encontrei o que procurava (que não lembro o que era), mas fiquei deprimido por já não ser o que outrora fora. Além de me parecer, esta loja em particular, muito pequena. Mas isso foi porque inevitavelmente a comparei com outra da cadeia, gigantesco centro comercial do móvel na Margem Sul (em Corroios), com três enormes pisos. 

Foi lá que comprei o sofá e o tapete da sala para a minha primeira casa, em Lisboa. Antes disso, claro que em casa dos meus pais qualquer nova necessidade deste tipo de mobiliário era a ela que recorria. Também para a primeira casa que comprei foi lá que encontrei algumas peças. 
Entretanto chegou a Portugal um novo conceito (estrangeiro) de mobiliário (design sueco, dizem) a preços acessíveis à maioria dos portugueses, num enorme espaço comercial onde eles passaram a fazer as suas compras, maravilhados com as novas possibilidades de arrumação, organização e decoração para a casa, com muitas soluções para casas com divisões de tamanhos modestos. Claro que o grosso catálogo desta marca, que todos os anos aparece na caixa de correio de quase todos os portugueses, passou a ser a bíblia de mobiliário de muitos. 
Os móveis da Moviflor passaram a estar muito datados e fora de moda, apesar dos esforços. Não valia a pena concorrer: os portugueses estavam determinados a passar dias inteiros a percorrer os imensos metros - dizer quilómetros não seria exagerar - dos labirínticos corredores da outra loja, que oferece menus de pequeno almoço e de almoço a preços também acessíveis, que convidam a ficar ainda mais tempo. A estratégia parece funcionar. O restaurante e a loja está sempre cheio ao fim de semana. Sei porque também me rendi, durante uns tempos, ao design e conceito simples, embora as almôndegas de carne não me atraiam particularmente.


Não admira, por isso, que a Moviflor tenha vindo, nos últimos anos, a sentir o abalo na faturação. Apesar das tentativas de recuperação, com novos investimentos para a tentar salvar, a cadeia não está a sobreviver saudavelmente. Já não consegue pagar a tempo e devidamente aos empregados e as últimas notícias dão conta que irão fechar as lojas já a partir do dia 1 de outubro. 
Nas reportagens dos vários canais de televisão, à hora de almoço ou de jantar, os empregados queixam-se dos atrasos nos vencimentos. Os portugueses, como eu, têm pena da situação e comentam a tristeza que é, ao que o país chegou, e vai lembrar-se disso sempre que olhar para aquele móvel comprado lá a prestações, aqui há tempos.

Mas para afogar as mágoas, e já que é domingo e está a chover e tudo, que tal irmos à tal loja que até vende umas bolachas suecas de gengibre e pimenta, muito boas e estaladiças, e se aproveita para comprar aquele móvel, jeitoso pró quarto dos miúdos, com arrumação engenhosa e que vem numa embalagem plana que até cabe na bagageira?

A economia, em Portugal, agradece. Afinal, sempre se está a dar emprego a (outros) portugueses (e parece que as peças, apesar de design sueco, são construídas em Portugal). Pelo menos até ver...

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