quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A língua portugueira é muito traiçoesa : nem todos os A's são verdes



Começou a ideia deste post com uma dúvida colocada por um amigo, por sua vez provocada por uns colegas deste, sobre em que circunstâncias se devem utilizar as palavras 'obrigado' e 'obrigada', não como verbos mas como agradecimento. Para mim (e para esse amigo) a dúvida não se colocava, pois sabíamos que dependem do género da pessoa que as utiliza, e não da circunstância ou do contexto. Ou seja, os meninos dizem 'obrigado' e as meninas 'obrigada'. Tal e qual como na apropriada conjugação verbal.

Eu sabia porque esta dúvida já a tinha tido há uns tempos e na altura fiz a pesquisa necessária para a esclarecer. Mas a insistência dos colegas desse meu amigo, que teimavam não ser assim, levou-nos a procurar nos entendidos manuais o esclarecimento que, não só os calasse, mas os ensinasse qualquer coisa. É assim que devemos fazer, em vez de nos armarmos a entendidos convictos cuja convicção é deitada por terra com uma simples busca pela informação correta.

Esta pequena mas curiosa pesquisa fez-me, por um lado, pensar nas barbaridades que se vão dizendo e escrevendo no dia a dia, calinadas que fácil e gratuitamente empobrecem a língua portuguesa com a pobreza de vocabulário e de conhecimento das regras gramaticais. Já nem falo do polémico novo (já não tão novo assim) acordo ortográfico. Isto num país em que a taxa de analfabetismo, segundo dados do último censos (2011) aponta para níveis cada vez mais reduzidos (%?) enquanto, por outro lado, nunca tivemos tantos licenciados no país.

O paradoxo disto, destes dados, é que a expressão escrita (e até a oral) não espelha esse conhecimento maior de seja qual for a matéria estudada. A comunicação continua, ainda, a ser uma 'coisa' que não interessa muito, quando, afinal, dela dependemos para nos expressarmos. Dela depende o início ou fim de uma guerra, de um romance, de mal ou bem entendidos, de conhecimento adquirido, etecetera, etecetera (assim mesmo, por extenso, para aumentar a importância do etecetera). É que ainda há muita gente (também se pode dizer 'pessoas') que não sabe, por exemplo, distinguir a utilização da forma correta do verbo haver com o outro 'à'. Mas (não) são verdes.
Eu vou há praia mas à muito tempo que lá não ponho os pés. NÃO
Há, isso sim, alguma coisa em mim que me faz trazer este assunto à baila. SIM
Pode pensar-se que não, mas a dúvida parece uma daquelas tradições que não deixam de existir, mesmo quando já não fazem qualquer sentido que as haja. Ainda há bem pouco tempo um conhecido meu teve de apresentar uma proposta de prestação de serviços (em comunicação, veja-se a triste ou apenas patética ironia) e nela era taxativa, quase vergonhosa (envergonhei-me por ele), a utilização do verbo haver (há) quando queria colocar um qualquer assunto à consideração de Vossas (dele) Ex.as. 

A informal pesquisa fez com que, por outro lado, eu encontrasse outras expressões que podem suscitar algumas dúvidas (incluindo em mim mesmo). A elas voltarei oportunamente, para não maçar muito a vossa leitura. À cautela. Há muito tempo para isso.

Obrigado pela vossa atenção.


Créditos da imagem:
Garden, por Reem Yassouf

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1 comentário:

  1. Mais uma vez, oportuno e com uma grande ironia implícita, o resto, gostei e com muito agrado na leitura destas "crónicas"

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